Chalé dos filhos de Afrodite

what are your hesitations?

Samantha era o tipo de garota que não precisava de ajuda para nada, não verdadeiramente, era muito inteligente e tinha certeza do que queria em todos os momento, e nesse ponto éramos mais do que idênticas. Mas quando o assunto era sair, ou melhor dizendo, "impressionar possíveis garotinhos que aparecessem em volta" ela parecia precisar e muito da minha opinião. Muitas vezes isso me fez rir muito ou até me estressou muito antes, principalmente na nossa época "normal" em Los Angeles. Nosso pai nem ligava mais para o fato de ter duas filhas tão altamente ligadas a moda, nós gostávamos mesmo de tudo que dizia respeito aquilo, assim como horas e horas de compras em lojas chiques ou só fofas mesmo. Nossa madrasta estava muito mais interessada no quanto gastávamos do que o nosso pai, e é por isso que ficamos até felizes por conseguir nos livrar dela, de megera já basta a pequena dupla de loiras fatais. O fato é que Samantha já havia desfilado com todo o seu guarda-roupa no chalé de Afrodite, eu permaneci deitada na minha cama a maior parte do tempo, apenas observando suas idas e vindas, e quando pensava em fazer algum comentário sobre a roupa que acabara de passar na minha frente, ela já havia corrido de volta pro armário e pego outra nas mãos. As outras filhas de Afrodite, e principalmente os filhos, saíram correndo do Chalé quando Samantha lançou-lhes um daqueles olhares de "Não se intrometam no meu vestuário ou arranco-lhe um olho", ela realmente era do tipo temperamental, quando aceitava uma opinião era só a minha, abafei risadinhas por trás de uma revista qualquer de fofocas, que eu lia despreocupadamente sem muita atenção, admito. — Espero que você arrume essa bagunça — Disse apontando para a pilha de roupas que se formava a frente do nosso guarda-roupa, e honestamente por quase todo o Chalé já que havia pelo menos alguma peça ou acessório para todos os lados. Samantha me ignorou, voltando sua atenção para um belo vestidinho azul, assim que o vestiu pareceu enfeitiçada, e a roupa lhe caiu muito bem, apenas fiz um movimento de cabeça, curto e leve, concordando com o traje quando ela desfilou pela última vez, batendo palminhas e se dirigindo a nossa cômoda. Não preciso nem dizer que dividíamos tudo, desde que nascemos, e na maioria das vezes era uma escolha nossa fazer isso, gêmeas normalmente são amigas e extremamente unidas o que era o nosso caso, mas quando saíamos juntas podíamos ter momentos de briga na escolha das roupas e acessórios.  

Um pouco cansada de observar minha irmã, voltei toda minha atenção para a revista que eu tinha nas mãos, mudando de posição e me deitando de bruços na cama, com o troco levemente erguido já que me apoiava nos cotovelos. Ouvi Samantha pedindo minha ajuda, enquanto fuçava nossa cômoda, logo ela veio para perto de mim, com as mãos fechadas e um sorrisinho astuto nos lábios. Ergui uma sobrancelha assim que ela me mostrou o brinco azul lazuli, que incontáveis vezes foi motivo de brigas entre nós duas, e logo depois um delicado brinco de perola. Olhei bem para os trajes dela, o brinco de lazuli era muito chamativo e provavelmente tiraria a atenção do vestido, seu rosto já seria um chamariz suficiente para a noite toda, e suas sapatilhas eram claras, as pérolas cairiam como uma luva aquela composição. Apontei para o brinco de pérola, e Samantha se levantou voltando para a nossa cômoda que estava uma verdadeira zona, coisa típica de Samantha, ela era tudo menos organizada. — Ai de você se não arrumar tudo isso quando voltar, Samantha. — Nossa maior diferença era com certeza a desorganização de Samantha e minha mania de organização. Eu detestava coisas fora do lugar e muitas vezes era quem saia arrumando as coisas que minha irmã deixava fora do lugar, já que ficava inquieta e no maior nível de mau humor quando tudo não estava em seu lugar correto e perfeitamente organizado. Fui diagnosticada anos antes com TOC, transtorno obsessivo compulsivo que me fazia ter esse "problema" com a organização de tudo. Samantha me convidou mais uma vez para a festinha na praia, mas eu não cheguei a dar muita atenção, apenas soltei algo parecido com um "hum", e então ela saiu lançando um beijinho da porta.

Fiquei mais uma meia hora na cama, até que a leitura realmente começasse a me entediar e que a zona deixada no Chalé me fizesse ter vontade de cometer suicídio. Me levantei da cama, praguejando de maneira ofensiva, e dirigindo tomos meus pensamentos a Samantha, obviamente. Comecei pela cômoda, guardando todos os nossos acessórios em suas caixinhas correspondentes e deixando tudo extremamente organizado, dei uma rápida olhada no espelho, notando que meu cabelo estava ótimo hoje, liso e com leves cachos na altura dos ombros, acabei abrindo um sorrisinho, desmanchando a carranca que eu havia formado minutos antes. Estava um pouco mal humorada depois de um encontro desagradável que havia me custado uma adorável camisa de flanela naquela manhã. Quando terminei de arrumar todo o quarto e havia pendurado o último vestido no nosso guarda-roupa, dei de cara com uma peça que curiosamente não havia caído nas graças de Samantha. Era um vestido, justo até  cintura e depois bem soltinho, dando uma aparência delicada que mais lembrava uma boneca, era em renda delicada e com alças largas em formato triangular que cobriam a parte superior inteira do ombro. Retirei ele do armário, vestindo a peça por pura vontade de colocar uma roupa bonita, afinal de contas eu adorava me vestir bem, mesmo que fosse para dar uma voltinha pelo acampamento. Com o vestido no corpo me fitei em frente ao espelho, sentindo que faltava alguma coisa, então peguei dentre as dezenas de opções, um cinto preto de largura média, que afivelou o conjunto na cintura, onde ele mudava, dando o toque final que ele merecia. — Perfeito — Sussurrei fitando o resultado no espelho. Minutos depois eu havia percorrido todo o Chalé, calçando sapatilhas peroladas e colocando um brindo de pedra negra, com menos de dois centímetros de diâmetro. Meus cabelos não precisavam de nenhum tipo de cuidado, estavam ótimos daquele jeito. Não sei o que me deu, mas a necessidade de me divertir de repente se tornou gigantesca e eu faria questão de encontrar novamente a garotinha que me irritara pela manhã, quem sabe aquela não seria uma ótima oportunidade de mostrar quão inabalável eu poderia ser, apesar do modo como ela poderia ter me definido em sua mente perturbada.